Fantasias Europeias II: os gordos da Europa
Angela Merkel, em plena campanha para as eleições regionais da Alemanha, lembrou-se de afirmar que a idade da reforma e os períodos de férias deveriam ser iguais em toda a Europa, numa crítica directa ao estatuto dos Gregos, Espanhóis e Portugueses. Embora todos vissem que isto era uma manobra demagógica - até os próprios alemães - Angela Merkel sabia que tinha de dizer isto em território germânico - ficava-lhe bem. Da mesma forma que Paulo Portas denuncia os abusos do rendimento social de inserção, Angela Merkel ataca os Países do Sul - é tudo uma questão de cadeia alimentar...
Há um acrónimo que identifica os membros mais pobres da zona Euro - PIGS: Portugal, Itália, Grécia e E(S)panha. PIGS - nós somos os porcos da Europa. Um porco é um animal associado a um estereótipo de gula e sujidade. Nas declarações de Angela Merkel, está implicíta a ideia de laxismo e preguiça dos “porcos” da Europa, sendo a riqueza da Europa produzida pelos Estados Centrais da União Europeia, nomeadamente pela Alemanha. Quando pensamos na Alemanha, vem-nos à cabeça ideias como organização... trabalho... riqueza... o oposto daquilo que se pensa quando falamos sobre Portugal - um país gordo como um porco!
No canal televisivo SIC, surgiu um reality show que se baseia num concurso onde pessoas com excesso de peso que concorrem para perder o máximo de peso, estando em concorrência no combate à obesidade - o título em inglês ilustra a ideia do programa e que me faz reflectir sobre os problemas estruturais que Portugal enfrenta neste momento: The biggest loser (O maior perdedor).
Para os restantes europeus, os Portugueses são os gordos da Europa - aqueles que não trabalham e que consumiram demasiadas calorias. Aqueles que têm que trabalhar mais o físico e comer menos - uma visão simplificadora. Ou simplista...
Ora, o problema da obesidade resolve-se de muitas maneiras mas sabe-se que há muitos mitos sobre esta questão. E entre esses mitos os que predominam e prevalecem são as dietas rápidas que normalmente têm um resultado inverso - aumenta-se de peso. Por outro lado, o que é mais importante perder peso ou deixar de fumar? Perder peso é importante e o excesso de peso provoca outros problemas mas qual é a importância deste problema comparando com outros problemas... ser gordo é ter uma doença terminal?
O mesmo se aplica aos diversos desequilíbrios económicos de um País - podemos comer menos (cortar na despesa...) ou comer melhor (apostar no investimento reprodutivo...), fazer exercício físico (pôr a economia mais activa e produtiva). Tudo depende do País tomado na sua perspectiva global, sendo que há muitos factores que concorrem para a resolução do problema do défice externo e da dívida pública: a geografia, a história, os recursos naturais, a população, o sistema educativo... tanta coisa.
Por exemplo: eu sou gordo e sei que tenho de emagrecer mas sei que isto implica força de vontade e consequente trabalho. Porém... Sei que para resolver este problema preciso de tempo. E o mesmo se aplica a Portugal...
O problema é que Portugal não tem tempo... relaxou, desde o tiro de partida desta corrida (entrada para a então Comunidade Económica Europeia) e agora tem de recuperar o tempo perdido rapidamente. Ou seja: Portugal tem de fazer a dieta de Duncan!
Há outra alternativa? Haver, há... mas os portugueses têm optado democraticamente por esta via que estamos a atravessar... por isso, em rigor, nao nos podemos queixar porque chegámos a um ponto onde só se engana quem se quer enganar - está na hora de suar!