domingo, agosto 28, 2011

Fantasias Europeias II: os gordos da Europa


Angela Merkel, em plena campanha para as eleições regionais da Alemanha, lembrou-se de afirmar que a idade da reforma e os períodos de férias deveriam ser iguais em toda a Europa, numa crítica directa ao estatuto dos Gregos, Espanhóis e Portugueses. Embora todos vissem que isto era uma manobra demagógica - até os próprios alemães - Angela Merkel sabia que tinha de dizer isto em território germânico - ficava-lhe bem. Da mesma forma que Paulo Portas denuncia os abusos do rendimento social de inserção, Angela Merkel ataca os Países do Sul - é tudo uma questão de cadeia alimentar...

Há um acrónimo que identifica os membros mais pobres da zona Euro - PIGS: Portugal, Itália, Grécia e E(S)panha. PIGS - nós somos os porcos da Europa. Um porco é um animal associado a um estereótipo de gula e sujidade. Nas declarações de Angela Merkel, está implicíta a ideia de laxismo e preguiça dos “porcos” da Europa, sendo a riqueza da Europa produzida pelos Estados Centrais da União Europeia, nomeadamente pela Alemanha. Quando pensamos na Alemanha, vem-nos à cabeça ideias como organização... trabalho... riqueza... o oposto daquilo que se pensa quando falamos sobre Portugal - um país gordo como um porco!

No canal televisivo SIC, surgiu um reality show que se baseia num concurso onde pessoas com excesso de peso que concorrem para perder o máximo de peso, estando em concorrência no combate à obesidade - o título em inglês ilustra a ideia do programa e que me faz reflectir sobre os problemas estruturais que Portugal enfrenta neste momento: The biggest loser (O maior perdedor).

Para os restantes europeus, os Portugueses são os gordos da Europa - aqueles que não trabalham e que consumiram demasiadas calorias. Aqueles que têm que trabalhar mais o físico e comer menos - uma visão simplificadora. Ou simplista...

Ora, o problema da obesidade resolve-se de muitas maneiras mas sabe-se que há muitos mitos sobre esta questão. E entre esses mitos os que predominam e prevalecem são as dietas rápidas que normalmente têm um resultado inverso - aumenta-se de peso. Por outro lado, o que é mais importante perder peso ou deixar de fumar? Perder peso é importante e o excesso de peso provoca outros problemas mas qual é a importância deste problema comparando com outros problemas... ser gordo é ter uma doença terminal?

O mesmo se aplica aos diversos desequilíbrios económicos de um País - podemos comer menos (cortar na despesa...) ou comer melhor (apostar no investimento reprodutivo...), fazer exercício físico (pôr a economia mais activa e produtiva). Tudo depende do País tomado na sua perspectiva global, sendo que há muitos factores que concorrem para a resolução do problema do défice externo e da dívida pública: a geografia, a história, os recursos naturais, a população, o sistema educativo... tanta coisa.

Por exemplo: eu sou gordo e sei que tenho de emagrecer mas sei que isto implica força de vontade e consequente trabalho. Porém... Sei que para resolver este problema preciso de tempo. E o mesmo se aplica a Portugal...

O problema é que Portugal não tem tempo... relaxou, desde o tiro de partida desta corrida (entrada para a então Comunidade Económica Europeia) e agora tem de recuperar o tempo perdido rapidamente. Ou seja: Portugal tem de fazer a dieta de Duncan!

Há outra alternativa? Haver, há... mas os portugueses têm optado democraticamente por esta via que estamos a atravessar... por isso, em rigor, nao nos podemos queixar porque chegámos a um ponto onde só se engana quem se quer enganar - está na hora de suar!

quinta-feira, agosto 25, 2011

Anarchy in the UK


Foi quase impossível para muita gente não fazer a associação entre os motins no Reino Unido e a música dos Sex Pistols “Anarchy in the UK”. Só pelo título da música é fácil estabelecer os paralelismos entre o tema da banda punk britânica e os eventos que invadiram os meios de comunicação social durante o mês de Agosto. Embora não fosse um fã incondicional - quando era miúdo achava piada... - hoje olho para esta música com um caracter profético sobre a realidade dos motins. Gostaria então de citar a primeira quadra:

1) I am an anti-christ [Eu sou um anti-cristo] | I am an anarchist [Eu sou um anarquista] | Don't know what I want but I know how to get it [Não sei o que eu quero mas sei como o alcançar] | I wanna destroy the passer by [Eu quero destruir o transeunte]....

Esta música foi escrita em 1976 e tem uma actualidade incrível! Entre a visão do “bom selvagem” e do “mau malandro”, os Sex Pistols escreveram e interpretaram uma canção que define muito bem o nihilismo moderno. Porque vivemos uma sociedade racional assente na ideia sistémica e holística que todos os fenómenos têm de ter uma explicação lógica, é difícil realmente compreender o que se passou para ter ocorrido os motins em várias cidades no Reino Unido. Nenhuma ciência é verdadeiramente exacta e mesmo que existisse um tratado epistemológico das massas em fúria na actualidade, existiriam várias explicações para este tipo de fenómenos... mas há uma explicação que tem escapado a muitos analistas - a violência não se justifica, a violência, muitas vezes, é. Quando estamos frustrados com o Mundo, a violência parece ser a única solução - estamos possuídos, não pensamos - porque precisamos de um escape para a raiva que o quotidiano de exigências, incompreensões, desentendimentos e falhanços. A violência que assistimos no Reino Unido não tem justificações válidas porque violência não merece compreensão mas merece entendimento esclarecido para a sua resolução sustentável.

2) Anarchy for the U.K it's coming sometime and maybe [Anarquia no Reino Unido, vai acontecer algum dia e talvez] | I give a wrong time stop a traffic line [Eu dou uma travagem errada na fila de trânsito] | your future dream is a shopping scheme [ O teu futuro de sonho é um esquema comercial]

How many ways to get what you want [Quantas maneiras para ter o que tu queres] | I use the best I use the rest [Eu uso a melhor eu uso o resto] | I use the enemy ,I use anarchy [Eu uso o inimigo, eu uso a anarquia]

Estes motins não tinham ideologia - declarámos a morte a Deus, às ideologias e aos valores. Não somos de direita nem de esquerda. Somos por nós próprios. Somos pelas nossas necessidades e desejos individuais. Eu quero ter, eu tenho que ter... eu tenho direito a ter. A palavra “não” não existe. Gordon Gecko tinha razão... “greed is good”. A garganeirice (como a minha mãe chama...) é o valor maior dos dias de hoje. E o que se viu naqueles motins foi basicamente isso - garganeirice.

Is this the M.P.L.A [Isto é o M.P.L.A.] | Or is this the U.D.A [Ou isto é o U.D.A.] | Or is this the I.R.A. [Ou isto é o I.R.A.] I thought it was U.K. [Eu pensava que era o Reino Unido ou um outro país]...

Outro problema central na análise dos motins no Reino Unido é pensar que este problema é um problema inglês. Não é um problema geográfico ou cultural - é um problema do paradigma socioeconomico. As sociedades modernas criam a ilusão da abundância pelo mérito mas as sociedades (por serem compostas por seres humanos) são naturalmente injustas e promotoras de desigualdades - o mercado e o mérito são criações abstractas para quem quer manter-se por cima. Os motins do Reino Unido são um problema do Capitalismo, que como o Socialismo soviético, não quer perceber os problemas e consequentemente não quer criar soluções sociais e económicas para a resolução de um problema que é complexo, reflexivo e mutante.

A resolução mais fácil é a força - esmagam-se os motins na rua, colocam-se mais polícias, com mais equipamento. Resolve-se o problema a jusante e esquece-se o futuro. Só que o problema adormece mas depois acorda e entramos numa espiral em que teremos de ter um polícia para cada cidadão.

O problema é que um polícia custa dinheiro. Custa muito dinheiro. E ao comparar os preços, vemos que prevenir é mais barato. É mais barato mas mais difícil.

E para finalizar...) Get PISSED DESTROY! [Fica chateado, Destroi!] - ora foi o que eles fizeram...