Lisbon's not dead
Cavaco Silva lembrou-se mais uma dos jovens na sessão comemorativa do 25 de Abril.
Baseando-se num estudo feito pela Universidade Católica, no seu discurso presidencial, ele alertou os deputados da nação para a ignorância e desinteresse generalizados dos jovens para as questões da política e cidadania.
O problema do nosso estimado Presidente da República é que ele porta-se como Frei Tomás ? faz o que eu digo e não faças o que eu faço! A visão do estadista Cavaco Silva foi tendo várias metamorfoses mas, mesmo se pensarmos o que conta é este momento, as palavras cairam mal, na minha modesta opinião.
E caíram mal porquê? O elã político de Cavaco Silva advém muito da capacidade de tomar decisões sozinho, contra tudo e contra todos. Cavaco, o liberal, defende implicitamente que o Estado serve para potenciar o crescimento económico dos agentes económicos do Estado. As eleições servem para dar maiorias estáveis e governáveis. As ideias e os rumos estão definidos nos compêndios e manuais de Economia. Não há muito a inventar. As ideias e as diferenças de opinião são frequentemente fait divers que podem originar cargas da GNR mas isso é aquilo que é menos preocupante.
Não olhemos então para o Passado: das três perguntas colocadas no estudo e que deixam profundamente preocupado o Sr. Presidente, há uma que acho particularmente ilustrativa da incongruência do discurso deste mais-que-tudo do nosso País ? quantos países tem a União Europeia? E você sabe quantos países tem a União Europeia? Não é preciso ser-se jovem para responder errado a esta pergunta.
E porque é que os jovens (e os velhos...) não sabem quantos países têm a União Europeia? Por uma série de razões mas aquela que me surge como mais directa é a falta de informação e de debate nas escolas e em outros espaços públicos. Eu também acho que é grave que muitos jovens não saibam responder mas a questão que coloco é que os políticos do Bloco Central gostam de falar da UE como um facto consumado como o Sol, as Estrelas e os finais das telenovelas. Não há nada a saber.
Foi público e notório o papel de Cavaco Silva na escolha da ratificação via parlamentar do Tratado de Lisboa. Até agora o povo Português nunca fora consultado sobre qual era a sua opinião. Hoje, pagamos a factura de Maastricht sem o sabermos. Se calhar o Povo Português quereria pagar essa factura, mas aquilo que importa é que quando temos a oportunidade de discutir (através do instrumento do referendo) e elucidar o que é, de facto, este Tratado e o que queremos da Europa, a resposta do bloco central foi... não.
Quer Cavaco Silva e os seus apoiantes gostem ou não, a verdade é que a ratificação parlamentar serviu de tampão a um mecanismo que poderia estimular a discussão, o conhecimento e um possível sentimento de pertença à União Europeia. Hoje, a Europa é um sítio onde se vai buscar subsídios, mais nada porque o resto não interessa. Cavaco Silva não é o único ? por toda a Europa, os europeístas têm medo dos europeus. Cavaco não entende a ignorância nem a dúvida. Para ele a realidade dos factos têm a simplicidade ontológica de uma fatia de bolo rei. Está lá e nós comemos. O pior é se nos sair a fava.
Quando as taxas de juro aumentam, quando a ASAE vai atrás do pequeno comerciante, quando o IVA não baixa... em tudo isto temos decisões de cima, da União Europeia. Não vemos Bruxelas mas ela está lá!
O que Cavaco Silva não quer assumir é que a consciência política e a participação cívica das pessoas está também dependente da disponibilidade dos políticos em aceitar diferenças de opinião. Quando o Presidente apela à participação, apela à participação de acordo com as suas regras, visão e finalidade. O modelo Ford T com todas as cores, desde que sejam preto. Todas as soluções políticas desde que tenham Tratado e ainda por cima com o nome da nossa capital maravilhosa. Enquanto há esperança... Lisbon's not dead! Cavaco dixit.