terça-feira, julho 24, 2007

Oficina

A palavra “oficina” tem acompanhado o percurso da associação à qual presido: durante os últimos anos a Rato - ADCC tem desenvolvido um trabalho de formação e sensibilização para as Novas Tecnologias de Informação e Comunicação na Oficina da Juventude do Miratejo (OJM).
Esta oficina vai encerrar temporariamente na próxima semana para passar para junto ao novo mercado do Miratejo. Foi fundamental que a Câmara Municipal tenha estado disponível para a criação do protocolo com a Rato – ADCC: a cedência de duas salas (uma sala administrativa e uma sala de formação) na Oficina permitiu à associação crescer exponencialmente na qualidade e quantidade da sua intervenção. Eu, enquanto Presidente da Rato – ADCC, tenho de agradecer à Vereadora responsável pelo pelouro da Juventude na altura - Corália Ribeiro - e aos técnicos da Câmara Municipal do Seixal que acreditaram no projecto. Também gostaria de agradecer aos técnicos de atendimento ao público na OJM que passaram a ser nossos “colegas”...

A palavra “oficina” contém uma ideia de produção. Uma oficina não é uma loja ou um balcão onde se oferece um bem ou serviço. Se traduzirmos a palavra conseguimos as palavras workshop (em inglês) ou atelier (em francês) o que nos ilustra ainda melhor o conceito de trabalho. Resumindo, uma oficina é um local onde se trabalha e o trabalho é, em última análise, um acto de transformação da realidade. Esta linha de argumentação pode ser conotada com uma visão marxista mas isso só me ajudará no apelo que quero fazer neste artigo.

Esta pausa na OJM pode marcar o início de um capítulo onde os equipamentos para a Juventude do Seixal poderão ser isso mesmo: locais onde as pessoas (e neste caso especial, os jovens...) podem produzir; mais do que receber, dar. E aqui há uma questão central: o acesso ao equipamento e o seu modelo de gestão – com o volume de atribuições e responsabilidades que têm sido atribuídas aos municípios, é difícil para a autarquia incutir uma dinâmica que cumpra a ideia de trabalho e produção. Para isso a Câmara tem de contar com as parcerias que tem com o Movimento Associativo, nomeadamente com as associações juvenis. E para que as organizações juvenis consigam ter uma relação produtiva, é necessário que o equipamento seja fruto da participação efectiva das organizações juvenis.

Este processo não é fácil mas é necessário que os responsáveis pelos novos equipamentos estejam conscientes que, por exemplo, é impensável que uma reunião de uma associação que não se possa prolongar por causa de um horário de funcionamento. O associativismo juvenil depende do tempo livre dos seus associados jovens que, mesmo estudando, só têm tempo depois do jantar ou no fim de semana. Esta incompatibilidade só pode ser resolvida com uma lógica diferente no modelo de gestão e de funcionamento dos equipamentos juvenis. A Câmara Municipal pode ser titular e proprietária do equipamento mas tem de pensar como uma estrutura em rede, promotora de parcerias onde o trabalho não depende de uma chave de um edifício...

Mas vou mais longe nesta reflexão: é uma questão de Justiça para as organizações juvenis haver um equipamento que tenha essa flexibilidade e que possa, dessa maneira, servir de espaço de trabalho. Tal como uma oficina. Pode não haver dinheiro para as sedes das associações juvenis, pode não haver dinheiro para uma casa da juventude e podem haver cortes nos apoios às estruturas juvenis mas tem de haver um espaço para que as estruturas juvenis tenham uma “bolha de oxigénio”.

Não podemos esperar que haja uso do equipamento quando este não se ajusta às necessidades dos jovens e das estruturas juvenis ou quando não há familiaridade com estes. Embora existindo um terreno fértil a novos projectos juvenis e que haja já um trabalho feito nesta área, não podemos ficar satisfeitos e temos de estar conscientes da urgência da abertura para estas “novas velhas” ideias...

Quero acreditar, e digo isto sem sarcasmo e cinismo, que os responsáveis políticos e técnicos pela orientação deste “novo” equipamento (a nova oficina da juventude do Miratejo) que ressurgirá brevemente, tenham a coragem de alterar regras institucionalizadas e adaptar às novas formas de participação e às necessidades específicas do concelho do Seixal.

Podemos fazer da “nova” oficina um sítio para reparar “novos velhos” males...

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