domingo, outubro 28, 2007

Bem...

Li este artigo de opinião notável de Ferreira Fernandes sobre o ataque racista em Barcelona... a escrita dele é muito fluída, atraente e provocadora - podemos não concordar mas ele escreve bem...

Ele acaba o texto com um slogan brilhante para uma campanha para a sensabilização para a interculturalidade:

É dando-nos conta da merda de cão que nos desviamos dela.

quinta-feira, outubro 25, 2007

Não 1 mas 2 vídeos!!!

No outro dia, estava com um voluntário na associação e ele mostrou-me este clip feito por Michel Gondry, um realizador francês com uma imaginação notável... percam algum tempo a ver o clip [dos Chemical Brothers - Star Guitar] e o respectivo processo.

[Processo]



[Produto]



P.S.: Ok... não resisti são 3... este é um clip para os White Stripes [ Fell In Love With A Girl ]... não resisti aos legos!

terça-feira, outubro 23, 2007

Brincar aos judeus e nazis

Em Setembro, dois jovens portugueses lembraram-se de saltar o muro do cemitério judeu em Lisboa e libertaram o seu génio artístico nas campas com elementos da iconografia nazi. Surpresa! Ou não...

Eu sei: não tem piada!

Mas era importante reflectirmos sobre este episódio para algumas conclusões ou interrrogações... os dois jovens, associados a movimentos de extrema-direita, foram detidos e as vozes de repúdio levantaram-se: em pleno ano europeu para a igualdade de oportunidades, em Portugal aconteceu um fenómeno estranho e alienígena aos brandos costumes do nosso Portugal.

E o que é que a extrema-direita portuguesa quer com os judeus? Os judeus roubam empregos ou põem em causa a segurança dos portugueses? Bem esta questão entra no domínio do ridículo mas a causa preferencial do mal do nosso país para a extrema-direita portuguesa reside na imigração – para os “nacionalistas”, junta-se o útil ao agradável – porque na sua cabeça (e na cabeça de outros...) imigrantes = pretos + monhés + chinocas + estrangeiros em geral.

Provavelmente eles devem ser fãs de Tomás de Torquemada – o inquisitor que expulsou os judeus de Espanha no século XV. Não me parece... o Judeu não é o “arqui-inimigo” da extrema-direita portuguesa e o Torquemada era espanhol. Mas afinal porque é que miúdos profanam campas de judeus?

A Áustria e a Alemanha, mais do que vergonha, têm medo do seu passado anti-semita – não há jovem alemão que não tenha, pelo menos uma vez, tenha visitado um campo de concentração como Auschwitz-Birkenau ou Dachau. São experiências que em alguns casos são muito fortes, quando se observa o cabelo, os ossos, os dentes, as roupas e pertencentes daqueles que morreram lá... pura pedagogia pelo horror e pela vergonha.

Para nós, a contabilidade dos mortos do Nazismo é algo que fazemos à distância de um clique no comando da televisão para o Canal História. Ver cadáveres na Televisão e na Internet é cada vez mais fácil – faz parte das tarefas quotidianas do Cidadão Global. Mesmo quando não sabemos aquilo que representa, de facto, nós podemos sempre brincar aos judeus e nazis sem nunca perder, com a inocência de uma criança. O que torna este atque profundamente estranho e ridículo...

Chamar estes jovens marginais de estúpidos é o caminho mais fácil mas não responde ao desafio que está para vir – porque 1) não foi por falta de informação sobre o anti-semitismo que eles foram profanar um cemitério judeu e 2) não foi pelas razões clássicas do “racismo português” que praticaram este acto de xenofobia.

É importante encarar este problema com clareza científica, livres de preconceitos ideológicos. O racista será objecto das políticas sociais no futuro pois constituí um obstáculo real às políticas sociais do futuro: adianta muito pouco “demonizar” este tipo de comportamentos. É importante compreender as causas do fenómeno, as ramificações e entender que o tema da interculturalidade está presente em diferentes domínios da sociedade. Anúncios e campanhas onde se declara de forma maniqueísta qual o comportamento certo ou errado é uma perda de dinheiro.

Com isto não pretendo justificar ou desculpabilizar a profanação dos cemitérios judaicos – o que quero afirmar é que é preciso falar com um doente para saber quais os sintomas da doença, mesmo quando ele sofre de demência. Porque é de uma epidemia global e social que falamos – os fenómenos migratórios vão determinar ainda mais as agendas políticas dos governos que em tempos de crise vão sempre pelo caminho mais fácil e não pelo melhor caminho.

segunda-feira, outubro 15, 2007

Aniversário.

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

Álvaro Campos

Paranbéns pá! Parabéns...

quarta-feira, outubro 10, 2007

Mais uma imagem...

Algures lá está a minha mãe quando ela era pequenina...

domingo, outubro 07, 2007

O nú.

1. Tinha um jovem que colaborava com a Rato e ele dizia que na Internet podemos simular todos os sentimentos sem que o(s) outro(s) interlocutor(es) perceba(m). Eu, por outro lado, disse-lhe que as pessoas tem uma tendência a exporem-se emocionalmente no domínio do on-line.

2. Marion Jones, uma campeã olímpica norte-americana de atletismo, admitiu o uso de substâncias dopantes durante um período da sua carreira [YouTube]... fez uma declaração pública teve de descambar em lágrimas.

3. A Operação Triunfo é um programa engraçado - a exposição das emoções em pleno palco é uma situação extrema: pessoas em plena fragilidade choram e choram e choram... dramático... não consigo qual é o seu drama mas fico com a certeza de que as pessoas gostam de chorar em público como se lhes ficasse bem.

Um mundo com um olho omnipresente - o nosso amigo George Orwell havia de rir-se connosco porque ficaria a saber que o big brother é um gajo porreiro e que um bom nú emocional fica sempre bem - aquilo que vemos é aquilo que é...???

quarta-feira, outubro 03, 2007

Muito bem... há muito tempo que não ponho uma imagem - aqui vai:



Esta foi tirada na Polónia - o tipo ao meu lado é um formador/animador belga que vive em Portugal (as gajas dão a volta à cabeça de uma pessoa - deixar a Bélgica para vir para Portugal... cada um sabe de si e Deus sabe de todos...) e ele tinha uma t-shirt que denunciou na foto o meu estatuto intelectual! Divirtam-se um bocadinho à minha custa... :)

terça-feira, outubro 02, 2007

Ando a tentar configurar uma conta MySpace --> http://myspace.com/nunoide <-- mas aquilo é uma bosta... andei às voltas com aquilo e não conseguia encontrar como poderia alterar o aspecto gráfico daquilo...

Se calhar sou eu que sou um nabo (o que também é um facto...) mas sinceramente não percebo o sucesso quando aquilo desafia simultâneamente bom gosto, usabilidade e boa navegação web... não sei...
Ontem voltei a ver o filme "Solaris" do Steven Soderbergh a partir da obra do escritor polaco Stanislaw Lem - muito bonito, não traz nada de novo mas é um filme maravilhoso - destacaria a banda sonora e obviamente o rosto de Natascha McElhone.

Curiosamente (ou não...), filme pegou num texto maravilhoso de Dylan Thomas, enfatizando a força dos fantasmas interiores em cada um de nós...

Fica o poema:

And death shall have no dominion.
Dead men naked they shall be one
With the man in the wind and the west moon;
When their bones are picked clean and the clean bones gone,
They shall have stars at elbow and foot;
Though they go mad they shall be sane,
Though they sink through the sea they shall rise again;
Though lovers be lost love shall not;
And death shall have no dominion.

And death shall have no dominion.
Under the windings of the sea
They lying long shall not die windily;
Twisting on racks when sinews give way,
Strapped to a wheel, yet they shall not break;
Faith in their hands shall snap in two,
And the unicorn evils run them through;
Split all ends up they shan't crack;
And death shall have no dominion.

And death shall have no dominion.
No more may gulls cry at their ears
Or waves break loud on the seashores;
Where blew a flower may a flower no more
Lift its head to the blows of the rain;
Though they be mad and dead as nails,
Heads of the characters hammer through daisies;
Break in the sun till the sun breaks down,
And death shall have no dominion.

segunda-feira, outubro 01, 2007

2 notas:

1) hoje li excertos da entrevista do António Lobo Antunes, depois de "revelar numa crónica que tinha sido operado a um cancro no intestino" - a meio da entrevista fala da sua relação de Deus e ele recorreu a um ditado húngaro: "na cova do lobo não há ateus" in http://www.kaminhos.com/destaque.asp?id_artigo=7234

2) Ao ir ao café com os meus pais, encontrei uma mulher, acompanhada pelo seu marido, - não soube dizer quem ela era em particular mas reconheci-a no tempo da minha infância passada nas redondezas do mercado da Cruz de Pau. Os meus pais cumprimentaram-na e a minha mãe disparou as perguntas e contra-respostas a uma pessoa que passou por um período de doença grave e prolongado: "Então como está?... Vá coragem!..."

Prendeu-me o olhar o facto de ela ter a mão esquerda no bolso como se ela tivesse tido um AVC - ao certo não sei quais os males que a tal senhora padece... mas o que foi surpreendente foi a sua contra-contra-resposta: "Quando se nasce, tem!" - quando se nasce, tem...

Relacionei estes dois acontecimentos... não sei porquê mas relacionei...