sexta-feira, janeiro 13, 2012

Erasmus para quem?


Foi apresentado em Novembro a proposta da Comissão Europeia com o nome “Erasmus para todos” para as áreas da educação, formação, juventude e desporto - este programa visa substituir os actuais programas "Erasmus", "Leonardo da Vinci", "Comenius", "Grundtvig" e "Juventude em acção" e tendo o seu início previsto para 2014.

Muitas pessoas na área da Juventude, nomeadamente com o Programa Juventude em Acção, ficaram desapontados e revoltados com a proposta - a forma como estão redigidos secundariza (ou ignora, de acordo com a perspectiva...) o papel das organizações juvenis e da Aprendizagem Não Formal. A própria escolha do nome sublinhou esta tendência, destacando o programa Erasmus que visa a mobilidade de estudantes universitários - a justificação do nome centra-se no facto da notoriedade do nome ligado à aprendizagem e à cooperação europeia e ao ter um único pretende-se que haja uma maior capitalização do reconhecimento do investimento da Comissão Europeia neste domínio.

As palavras da comissária europeia responsável pela Educação, Cultura, Multilinguismo e Juventude acabam por dar essa ideia: “O investimento na educação e na formação é o nosso melhor investimento para o futuro da Europa. Estudar no estrangeiro potencia as competências das pessoas, o seu desenvolvimento pessoal e a sua adaptabilidade, fazendo com que tenham mais possibilidades de emprego. Queremos assegurar que um número bastante maior de pessoas venha a beneficiar de apoio da UE para aceder a estas oportunidades. Também temos de investir mais para melhorar a qualidade da educação e da formação a todos os níveis, de modo a podermos competir com os melhores do mundo e a criar mais emprego e maior crescimento.

Não há uma referência à palavra “Juventude”.

A actualidade europeia é marcada pela crise das dívidas soberanas e dificilmente se apostam em conceitos como participação cívica ou empoderamento dos jovens não passam de palavras bonitas - os que decidem (políticos, tecnocratas e banqueiros...) não se identificam com isto. A democracia participativa só é boa quando gera novos negócios. It’s all about the money...

Mas verdade seja dita, fala-se em Juventude neste programa porque se quer combater o desemprego juvenil. E como combate-se o desemprego? Através do “investimento na educação e formação é a chave para libertar o potencial das pessoas, independentemente da sua idade ou formação.”
A questão aqui é onde nos formamos e nos educamos - e a Comissão Europeia responde implicitamente que esta aprendizagem é feita primordialmente nas Universidades e no ensino formal. Ora isto não é verdade. A aprendizagem é feita de diferentes saberes e realizada em diferentes espaços, contextos e actores.

O trabalho em domínios da Juventude e da Aprendizagem Não Formal é desconsiderado e aqui a primeira coisa que tem que se fazer perante “Erasmus para Todos” é reflectir: reflectir sobre a visibilidade e o impacto deste trabalho; reflectir como tantos processos de sensibilização para as questões ligadas à área da Juventude desenvolvidos por tantas estruturas europeias e nacionais resultaram neste retrocesso; reflectir como o impacto do trabalho de tantas organizações juvenis acaba por ser menorizado. Este programa não é para todos tal como é dito no título... só falta saber para quem...

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